O OFÍCIO DO TRADUTOR

Para comemorar a nova versão do site, estava procurando um tópico bacana para começar os posts do ano, quando encontrei um texto bonito que acabou prendendo minha atenção. Acabei resolvendo colocá-lo aqui para que todos entendam, de uma forma um pouco mais lírica, como funciona o trabalho do tradutor…

“Um pequeno vinco acentuou-se entre suas sobrancelhas. Ele franzia o cenho enquanto lia. Leu, fez uma anotação e, em seguida, releu. Alheio a todos os sons, nada via exceto o grego diante de si. Mas, conforme lia, seu cérebro pouco a pouco se aguçava; ele tinha consciência de algo a acorrer e a pulsar em sua fronte. Captava frase após frase com exatidão, com firmeza, com mais exatidão do que na noite anterior, percebeu ele, fazendo uma pequena anotação na margem. Palavrinhas ínfimas revelavam agora nuances de significado, as quais alteravam o significado. Fez outra anotação; esse era o significado. Vibrou ante a própria destreza em apreender a acepção plena da frase. Ei-la, íntegra e completa. Urgia, porém, que fosse preciso, exato; até mesmo suas garatujas precisavam ser legíveis, quais letras impressas. Recorreu a um livro, a outro, e depois recostou-se para olhar, com os olhos fechados. Não podia deixar nada incorrer em imprecisão. Os relógios puseram-se a bater. Ele ouviu. Os relógios continuaram a bater. As linhas que lhe haviam marcado o rosto suavizaram-se; ele reclinou-se, os músculos relaxaram, e ergueu os olhos dos livros para a penumbra. Tinha a sensação de que havia se atirado na grama após uma corrida. Todavia, por um momento, pareceu-lhe que continuava a correr, pois sua mente prosseguia sem o livro, a viajar por conta própria, sem impedimentos, ao longo de um mundo de puro significado, mas que aos poucos perdia o significado. Os livros destacavam-se na parede; ele observou as encadernações de cor creme, um ramo de papoula em um vaso azul. Ao soar da última badalada, suspirou e levantou-se da mesa.”

A tradução (para minha própria vergonha) não sei de quem é, mas o texto é extraído do romance Os Anos, de Virgínia Woolf.

Espero que tenha gostado da leitura e até o próximo post!

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